Crônica: A Lógica Bancária

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Por José Inacio

É cabeça a cabeça, é briga de foice. Parecem fazer questão de darem a última gota de sangue para terem o melhor dos resultados, como crianças no counter-strike. Se um reporta um lucro astronômico, até então o maior da história no setor, a marca dura apenas uma semana até o concorrente divulgar os seus números e assumir a liderança.

É assim que vive o setor bancário brasileiro. Enquanto para muitos outros segmentos o estômago vem a boca no sobe-e-desce de um carrinho de montanha-russa, poucos como os bancos goza de um céu de brigadeiro, e, diga-se de passagem, voando com segurança total sem buracos-negros dos Cindactas ou operação-padrão de ninguém.

Tenho a impressão de que ao longo dos últimos anos o ir ao banco tem se tornado mais traumático, apesar de minha tenra idade e curta vida bancária. Os gerentes parecem mais despreparados em lidar com o trivial, e principalmente com algo um pouco diferente do que estão acostumados.

Sou investidor do mercado de ações e fui vítima disto. Gerentes de agência de três bancos líderes de mercado nos quais já tive conta não conseguiam entender que eu tenho direito de isenção de CPMF no caso de transferência de fundos para aplicação direta na Bolsa de Valores. Lamentável. Para alguns tive que começar explicando o que é uma Corretora de Valores, que era para a conta da Corretora que eu iria transferir o dinheiro, mostrar a lei do Banco Central referente à esta isenção, etc. Desnecessário dizer que o parto é sempre a fórceps.

E as filas? Tem agência em avenida movimentada que tem a pachorra de possuir somente três baias de atendimento, sendo que uma permanentemente desocupada, outra de atendimento preferencial e a última para atendimento ao público em geral. Se você é o décimo da fila, espera pelo menos quarenta minutos. Se for o vigésimo, você já não faz mais nada à tarde. Se for dia dos idosos irem ao banco, vais morrer de fome se não levou um lanche...

Desta forma, grande parte destes lucros astronômicos é obtida às custas de nosso tempo e paciência. Na verdade, isto é uma clara transferência de custos. O "vermelhinho espanhol" me dispõe somente dois caixas para se isentar de investimento em imobilizado (no sentido de ampliação da área de atendimento e consequentemente da agência) além de despesas com mão-de-obra direta com os atendentes adicionais. Quanto mais economizam, é aumento de lucro na certa. Se o "banco das 120 razões" e o "chapolim espanhol" tivessem investido em treinamento para os gerentes de linha de frente, eu me desgastaria menos e perderia menos do meu tempo explicando o que eles deveriam saber.

Desta forma, diminuem seus custos em troca do elevação do tempo que cada um de nós perdemos em uma agência. Se mais ficamos lá, menos tempo temos para produzir. Se produzimos menos, lucramos menos.

Para compensar meu tempo (e dinheiro) perdido cada vez que ponho o pé dentro da agência, protejo a minha sanidade mental com um hedge em ITAU4 ou BBDC4. Me descabelo uma vez por mês quando vou ao banco, mas compartilho um pouco da alegria com banqueiros a cada trimestre com os lucros recordes, embora eles brindem com Champagne e eu com um copo americano de Sangue de Boi...

c'est la vie.

Postado por Jose Inacio De Bortoli Filho às 13:35  

1 comentários:

É Zé, essa história de fazer transferência sem a cobrança de CPMF por causa da mesma titularidade de conta dá dor de cabeça mesmo.
Os clientes que têm mais investimentos nos bancos raramente contam com funcionários bancários mais capacitados, custa dinheiro neh...e geralmente usamos caixa.
A "massa" precisa de atendentes, e dessa forma sofremos com o despreparo.
Concordo plenamente com seu ponto de vista.

17 de novembro de 2007 às 07:43  

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