Crônica: Juros Compostos e a mágica da multiplicação

sábado, 15 de dezembro de 2007

Por José Inácio

Os juros significam a remuneração que o dono do dinheiro recebe por postergar o seu consumo.

Se não quero consumir hoje, empresto meu dinheiro a alguém e em troca disto recebo uma contrapartida por não poder usar momentaneamente este dinheiro para mim. É isto que acontece quando aplicamos em fundos de investimentos, em títulos do governo ou emprestamos dinheiro a um amigo. Posso também comprar ações de empresas na Bolsa de Valores ou investir de meu próprio negócio. Tornando sócio de algum empreendimento, "empresto" assim meu dinheiro em troca de dividendos futuros e apreciação no valor do meu negócio ou das ações no mercado.

Suponhamos que eu invista R$1.000 em uma aplicação que me dê 1% ao mês, e para facilitar o raciocínio consideremos a ausência de custos de transação, impostos e que não hajam aportes ou resgates além desta taxa seja constante ao longo do tempo.

Assim, no final do primeiro mês de aplicação, terei os R$1.000 mais 1% de juros do período totalizando R$1.010. No final do segundo mês, terei os R$1.010 somado a 1% capitalizados sobre esta quantia, o que dá R$1.020,10. Consequentemente, ao final do mês 3, terei o capital que tinha ao final do segundo mês (R$1.020,10) somado a 1% capitalizados sobre esta quantia totalizando assim R$ (1.030,30) e assim sucessivamente.

Os valores abaixo representam quanto 1% ao mês sobre um capital inicial de R$1.000 totaliza nos prazos de:

12 meses (1 ano): R$1.126,83
24 meses (2 anos): R$1.269,73
36 meses (3 anos): R$1.430,77
48 meses (4 anos): R$1.612,23
60 meses (5 anos): R$ 1.816,70
120 meses (10 anos): R$3.300,39
180 meses (15 anos): R$5,995,80

Note que, no primeiro ano meu dinheiro rendeu R$126,83 (R$1.126,83 - R$1.000,00). Já no segundo o montante cresceu R$142,90 (R$1.269,73 -R$1.126,83). Do segundo para o terceiro ano tivemos R$161,04 (perceba que os rendimentos são crescentes). Veja também que nos cinco primeiros anos tivemos um rendimento total de R$816,70 (R$1.816,70 - R$1.000) e nos cinco anos seguintes o rendimento foi de R$1.483,30 (R$3.300,39 - R$1.816,70) e finalmente, do ano 11 ao ano 15 tivemos R$2.695,41 (R$5.995,80 - 3.300,39). Por que, num mesmo período de tempo, os rendimentos são tão diferentes?

Isto ocorre porque a capitalização se dá sempre em cima do montante imediatamente anterior e não do montante inicialmente aplicado . Os R$126,83 se capitalizaram a partir de R$1.000, porém os R$142,90 se capitalizaram sobre R$1.126, 83 e assim sucessivamente.

Supondo agora se a taxa de juros de 1,5% sobre o mesmo valor inicial (R$1.000), teríamos o seguinte:

12 meses (1 ano): R$1.195,61
24 meses (2 anos): R$1.429,50
36 meses (3 anos): R$1.709,14
48 meses (4 anos): R$2.043,48
60 meses (5 anos): R$ 2.443,22
120 meses (10 anos): R$5.969,32
180 meses (15 anos): R$14,584,37

Veja que, com apenas 0,5% de acréscimo na taxa de juros mensal, no final de 10 anos o valor acumulado é quase de 81% (comparando R$5.969,32 com R$3.300,39) e ao final de 15 anos esta diferença aumenta para 143%, ou seja, é quase 2 vezes e meia maior (comparando R$14.584 com R$5.995).

Para se ter uma idéia, R$1.000 aplicados a uma taxa de 2% totalizarão R$35.320 em 15 anos. Os mesmos mil reais aplicados a 3% ao mês durante os mesmos 15 anos, atingirão incríveis R$204.503!

Esta estória, além de ilustrar o poder mágico dos capitalização composta dos juros, deixa a lição de que é muito melhor jogar no time do investimento que do endividamento. Em outras palavras, se a pessoa é investidora, as contas acima estão a seu favor. Se a pessoa é endividada, tudo isso é contra ela.

Supondo que os juros do cartão de crédito são de cerca de 6% a.m. Se você deve hoje R$500 à administradora do cartão, no próximo mês a sua conta é de R$530, daqui 6 meses será de R$709 e em um ano o seu débito pulará para R$1.066. Após dois anos, R$2.024 é o que você deve pagar e daqui cinco anos a conta explode para R$16.500! Exatamente: uma dívida de R$500 se transformou em R$16.500.

Eis o fogo. Alguns usam a sua energia para o seu conforto e bem estar, outros optam por carbonizar-se.

Postado por Jose Inacio De Bortoli Filho às 08:53  

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