Crônica: Jingle Bells

domingo, 9 de dezembro de 2007

Por Jose Inacio

Sou cristão, embora não seja católico, mas sinto arrepios quando começo a ver luzes nos pinheiros e escutar temas natalinos em comerciais. Mas nada comparado ao pavor que tenho de ir ao shopping nesta época, durante a qual prefiro seguir na contra-mão do senso comum e me abster do consumismo desenfreado que parece envolver a todos.

Há duas semanas atrás fui assistir o filme Tropa de Elite no cimena em um dos shoppings de minha cidade. Ainda faltavam quatro semanas para as festas natalinas, e naquele domingo às 15:00 só pude encontrar vaga para estacionar meu carro a uns 600 metros do portão de entrada dos cinemas. E tive sorte.

É impressionante. Vivemos em um país onde muitas pessoas ganham para a subsistência e para sustentar a política que nos chicoteia o lombo todos os dias, temos taxas de juros ao consumidor a níveis ainda muito altos e se vê milhares de pessoas dentro de um shopping com sacolas e caixa de compras até a cabeça, me remontando àqueles filmes de madames de Beverly Hills.

Tem alguma coisa errada. Isto cheira a ranço terceiro-mundista. Brasileiro com décimo-terceiro no bolso é como raposa faminta no galinheiro. Se entopem de comer, devorando inclusive as genitoras do seu alimento de amanhã. Mas nada parece saciar nosso instinto imediatista, nossa extrema necessidade de auto-afirmação no nosso meio. Se o décimo-terceiro não dá, aproveitemos os planos de 99 meses para nos presentearmos com uma nova lata de sardinha motorizada (embora carro no Brasil seja vendido a preço de caviar) ou então parcelemos os presentes de nossos queridos e pseudo-queridos no crediário até o Natal de 2009. Afinal, se já planejamos começar o regime e realizar o exame de próstata em 2008, nesta cesta de abacaxis do ano novo mais umas continhas não vão fazer diferença. Depois a gente dá um jeito mesmo....

Postado por Jose Inacio De Bortoli Filho às 13:39  

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