Cronica: Brasileiro e Automoveis - Amor sobre todos os custos

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

De volta às crônicas, hoje é dia de discorrer sobre algo típico da cultura brasileira: o amor incondicional aos automóveis.


O adjetivo “Incondicional” é uma palavra forte e mais que apropriada para esta relação afetiva. Desde longa data as pessoas movem mundos e fundos para adquirirem periodicamente a nova máquina dos sonhos, mormente por duas motivações fundamentais, cuja intensidade varia de pessoa para pessoa: a explícita e utilizada como justificativa (o conforto), e a escondida, que não é dita para ninguém (necessidade de status).


É o décimo terceiro que tão logo entra e se transforma na entrada de um financiamento a se perder de vista na linha do tempo. Ou então, recorre-se ao leasing, hoje fartamente utilizado pelas revendas como estratégia de vendas. A cabeça das pessoas não processa a relação entre variáveis como taxas de juros, indexação e montante total pago no final do plano. Tudo o que pensam é o benefício que o novo brinquedo irá proporcionar. E que se faça a parcela caber no orçamento familiar, mesmo havendo prejuízo ao consumo de bens básicos para a sobrevivência pessoal e manutenção doméstica.


De todos os bens de consumo, os automóveis são o canto da sereia preferido por aqui. São caixas de sardinhas vendidas a preço de ouro. Hoje o “popular” mais em conta aqui sai em torno de R$21 mil. Nos EUA, país de maior economia do mundo e de respeitável renda per capita, com 25 mil dólares se compra um Toyota Corolla zero quilômetro, completíssimo e com câmbio automático. Aqui somos pagos em reais, lá eles ganham em dólares, assim podemos concluir que pagamos o mesmo por carro desconfortável, fraco e pelado que um americano desembolsa por um automóvel de nível muito superior.


Mentira: pagamos mais. E o custo do financiamento? Poucos compradores se atentam na hora da compra. Pegam emprestado sem saber o quanto vão pagar por isso no final. É o efeito alucinógeno do canto já comprometendo o funcionamento do cérebro.
Isto tudo sem contar os custos associados: seguro, que é alto em função do histórico de sinistros como furtos e imprudência, IPVA, DPVAT, Licenciamento, manutenção periódica e depreciação do veículo. No primeiro ano de uso de um popular zero quilômetro, o seu proprietário já desembolsou aproximadamente 25% do seu valor a cargo das despesas acima, considerando neste exemplo para fins ilustrativos a depreciação como desembolso.


Mas, como se diz muito por aí, o amor é cego.

Postado por Jose Inacio De Bortoli Filho às 12:41  

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